FESTA DE SÃ?O MATEUS EVANGELISTA 21-09-2016

Se a política está doente, vamos evangelizá-la!
Quando escutamos, na primeira leitura, São Paulo conclamar a comunidade de Éfeso à mansidão e à humildade, suportando-os mutuamente em vista da unidade, podemos fazer uma leitura intimista e subjetivista da experiência cristã. Porém, quando a construção da unidade passa da retórica religiosa para a vida prática, inevitavelmente se enfrenta o desconforto que acontece no confronto com o diferente.
Refletir sobre a vocação do apóstolo Mateus, é contemplar a difícil tarefa da construção da unidade e da universalização da mensagem cristã; o que não deve ser confundido com projeto de expansão e hegemonia de nenhuma igreja. Trata-se de universalizar a experiência do Reino de Deus enquanto atitude de generosidade, solidariedade e compromisso com a justiça no mundo.
O seguimento de Jesus é para todos, independentemente de posição social, etnia, orientação sexual e religião. O próprio São Paulo na carta aos Gálatas proclama: “Não há judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (3, 28). O discurso paulino acima não implica perda da própria identidade, mas adesão a um projeto de solidariedade humana no qual a diferença não serve de justificativa para opressão e discriminação.
Não importa o que a pessoa foi ou fez antes de conhecer a mensagem libertadora de Jesus, mas o que ela vai se tornar depois que a conhecer. O exercício do discipulado nos convida a ser facilitadores desse processo de mudança e conversão na vida das pessoas, para isso, precisamos acreditar na capacidade de superação do outro e ao mesmo tempo sermos capazes de superar os nossos próprios preconceito. Desse modo, não raras vezes o trabalho evangelizador exige que enfrentemos momentos de tensão, sob pena do Reino de Deus não acontecer entre nós devido aos nossos pecados e os pecados dos outros.
Em todo o Evangelho de Mateus presenciamos uma Tensão entre as novidades trazidas por Jesus e os costumes da tradição judaica. Esta relação se torna explicita em metáforas como: “não colocar vinho novo em odres velhos e não colocar um remendo novo em uma roupa velha” (MT 9, 16-17)
A própria escolha de Mateus como discípulo de Jesus ocorre em meio à uma situação de aparente controvérsia, pois para os Judeus soava como um escândalo um líder religioso se aproximar dos cobradores de impostos. Além de estar a serviço do Império Romano, que oprimia o povo, os cobradores de impostos tinham fama de ladrões, usurpadores e corruptos.
Percebe-se, portanto, que subjacente à história da vocação de Mateus está colocado um problema que passa pela relação sócioreligiosa ou de Fé e Política. Fica evidente no discurso de Jesus que a corrupção presente na vida de Mateus é uma doença que precisa de remédio. Em outras palavras, para seguir Jesus ele precisava assumir uma nova postura na vida.
A história da vocação de Mateus tem muito a dizer à atual conjuntura política e religiosa. Atualmente a figura do cobrador de imposto corrupto, apresentada no Evangelho, se expressa não apenas na pesada carga tributária imputada aos consumidores, como nos sonegadores de impostos e nos que enviam dinheiro, oriundos dos esquemas de corrupção política, para o exterior.
Essa situação se torna mais grave e contraditória quando lideranças religiosas se aproximam de corruptos e corruptores do meio político brasileiro, não para produzir uma mudança de postura como Jesus propôs a Mateus, mas antes com o intuito de tirar proveito econômico para seus empreendimentos religiosos. A recente deposição do ex-presidente da câmara dos deputados federais, acusado de movimentar contas no exterior com dinheiro de origem ilegal, se torna um caso emblemático, uma vez que o referido parlamentar está acercado de lideranças religiosas e não poucas vezes os meios de comunicações se referem a ele como um homem de religião.
Diante do atual senário político brasileiro somos tentados a lavar as mãos ou nutrir um sentimento de ojeriza frente a tudo que se refere à política partidária. Porém, essa não deve ser a atitude do cristão. Se o meio político esta doente, vamos evangelizá-lo.
fr. Paulo, OP.