SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA 30-12-2016

SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA

 

(1ª Leitura - Eclo 3,3-7.14-17a (gr.2-6.12-14);

Salmo - Sl 127,1-2.3.4-5 (R. Cf 1);

2ª Leitura - Cl 3,12-21;

Evangelho - Mt 2,13-15.19-23).

 

                      Na liturgia de hoje, na qual celebramos a Solenidade da Sagrada Família, estamos diante de conselhos preciosos. Na primeira leitura, temos indicações de como os filhos devem tratar os pais: com honra, respeito, compreensão e caridade. Na segunda leitura, vemos a carta do apóstolo Paulo aos Colossenses, na qual Paulo exorta a comunidade a viver com o espírito do “homem novo”, cultivando as virtudes consequentes da união com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência, mas, sobretudo, amor. E o trecho do evangelho segundo Mateus apresenta-nos uma família exemplar, a família de Nazaré, que nos indica o valor da escuta a Deus. Esses preciosos conselhos nos indicam o que é necessário para ter uma vida feliz.  

                    “Honrar pai e mãe” nos remete ao decálogo (Ex 20,12), honrar significa “encher de honra”, de glória. Nada mais justo do que oferecer “glórias” aos que nos deram a vida e são, em certo sentido, os representantes de Deus na terra; são os que cuidaram de nós, os que não mediram esforços para nos oferecer a melhor educação. Por isso, quem os respeita “alcança o perdão dos pecados” e “é como alguém que ajunta tesouros” (Eclo 3, 4-5).

                   No entanto, em nossa sociedade não faltam exemplos de ingratidão e desrespeito para com aqueles que nos precederam. No mundo em que vivemos, onde o valor supremo é a produtividade, muitas vezes os velhos são descartados, abandonados. Não é raro ocorrer o que diz um trecho de uma bela música caipira “Couro de boi”: “um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai”. Portanto, é muito atual a Palavra de Deus: “Meu filho, ampara o teu pai na velhice (...). Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; (...) a caridade feita a teu pai não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados” (Eclo 3, 14-16).

                    Enquanto “homens novos”, devemos agir com misericórdia, bondade, mansidão e paciência. Mas o imperativo de nosso agir deve ser, sobretudo, o que Paulo nos recorda: “Amai-vos uns aos outros” (Cl 3, 14). É esse amor que vemos de modo tão fecundo na Sagrada Família que a fez superar as dificuldades.

                      A família de Nazaré enfrentou fadigas e até pesadelos, como podemos ver no trecho evangélico de hoje: Herodes queria matar o menino Jesus, por isso José e Maria pegaram o menino e fugiram para o Egito. Esse episódio nos faz recordar das inúmeras famílias que experimentam a dramática condição de refugiados, que fogem da guerra e da fome em busca de um lugar seguro para viverem com dignidade. Portanto, ao olharmos para a Sagrada Família somos convidados a meditar sobre todas as famílias sofredoras de nosso tempo, as excluídas, marginalizadas pelo egoísmo do próprio homem.

                   Um grande testemunho que a família de Nazaré nos dá é sua capacidade de ouvir a Deus, pois é na escuta a Deus que se encontram a fortaleza e a esperança para vencer as adversidades da vida. Ao ouvir o anjo do Senhor, a família de Nazaré se desinstala e caminha... Essa capacidade de ouvir e pôr-se a caminho deve ser também a capacidade de nossas famílias. Mesmo em meio às dificuldades, temos de caminhar, prosseguir, enfrentar os nossos medos, os nossos pesadelos para alcançar a plenitude de vida querida por Deus.

                 Portanto, como as leituras de hoje nos indicam, devemos nos revestir “de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência”, mas, sobretudo, “amar uns aos outros”. Que possamos honrar nossos pais e, a exemplo da família de Nazaré, possamos ouvir a Deus e viver esse amor transformador que nos conduz à felicidade. Amém!

 

Frei Alexandre Francisco de Marchi Silveira, OP