XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

11° DOMINGO DO TEMPO COMUM

 

 

          A liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade de vivermos uma vida nova, integrados na sua família que é a Igreja.


         A primeira leitura extraída do segundo livro de Samuel, apresenta-nos, através da história do pecador David, um Deus que não pactua com o pecado; mas que também não abandona esse pecador que reconhece a sua falta e aceita o dom da misericórdia. É verdade que o texto explicita o grave pecado e culpa de Davi que desagrada profundamente a Deus. A sua atitude nos leva a refletir sobre as vezes em que deixamos os “desejos da carne” falar mais alto em nossa vida. Como Davi, mesmo conhecendo a Palavra de Deus e os seus mandamentos, cometemos pecados e caímos em nossas fragilidades. Também ainda como ele, Deus nos perdoa, porém sofremos as consequências dos nossos atos. A misericórdia de Deus dada a Davi não o livra de colher as consequências da sua péssima atitude. Nós também, precisamos levar muito a sério esta questão. Não podemos achar que nossos atos bons ou ruins são totalmente já redimidos a ponto de não nos esforçarmos mais para nos mudar. No fundo, todos nos veem um pouco do que somos e do que seremos. Necessitamos nestes momentos estar muito próximos da misericórdia de Deus e dos irmãos e irmãs.


        Na segunda leitura, Paulo aos cristãos da Galácia e a nós, garante-nos que a salvação é um dom gratuito que Deus oferece, não uma conquista humana. Para ter acesso a esse dom, não é fundamental cumprir ritos e viver na observância escrupulosa das leis; mas é preciso aderir a Jesus e identificar-se com o Cristo do amor e da entrega: é isso que conduz à vida plena. Para Paulo, não basta praticar as leis, é preciso que se tenha fé. Ele faz essa observação para uma comunidade que estava se tornando escrava da lei, fundamentalista, o que empobrecia a mensagem do evangelho por ele anunciada. Hoje não é muito diferente. Há muitas pessoas que usam as leis da Igreja como se elas fossem uma “camisa de força”, não dando espaço para o amor, o perdão, a misericórdia, a caridade pastoral e o acolhimento. Quantas são as pessoas que se sentem excluídas por causa do rigorismo com que empregamos as leis da Igreja que existem apenas para nos ajudar a viver de forma organizada o evangelho! Paulo deixa muito claro ainda que ele morreu através da lei e para a lei já que antes ele era escravo da mesma. Vivia o seu radicalismo como muitos de nós... essa atitude o tornou fanático e todo o fanático não enxerga mais as pessoas, mas apenas as leis. Existem, como sempre, muitas pessoas, principalmente dentro da Igreja, que enxergam mais as rubricas e as normas do que a caridade pastoral. Estas e também nós, sempre precisamos de uma profunda conversão evangélica. Como Paulo, precisamos renascer em Cristo; necessitamos de uma transformação pela caridade. A misericórdia de Deus em Jesus nos ajuda a enxergar o que é essencial e não nos perdermos no emaranhado de “falsas tradições” que não se fundamentam no evangelho.


        O Evangelho coloca diante dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que era pecadora” e que vem chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor da mulher resulta de ter experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito do perdão gera amor e vida nova. Deus sabe isso; é por isso que age assim. O texto é muito interessante... Jesus aceita o convite de certo fariseu (sem nome) para participar de uma refeição em sua casa. Este o acolheu friamente em sua casa. Ser educado nem sempre coincide com um verdadeiro “calor humano”. O fariseu foi muito formal com Jesus. Nem se preocupou em recepcioná-lo, como dizia a tradição, com uma bacia de água perfumada para os seus pés. Contudo, Lucas também nos apresenta também um contraponto: coloca uma mulher conhecida como pecadora da cidade que lava os seus pés com o melhor perfume. Dois extremos: de um lado, um homem tido como “santo”, exemplar perante todos; de outro uma “mulher pecadora” mal vista na cidade. E Lucas vai além; quer nos ajudar a meditar neste fato: aquele tido como certo recebeu Jesus, mas não o acolheu. Já a mulher, tida como pecadora, acolheu Jesus, tendo atitudes extremadas de amor nesse acolhimento. O perigo de nos acharmos santos e perfeitos é exatamente este: nos acomodarmos e acharmos que não precisamos fazer o bem, acolher nossos irmãos e amar como Jesus amou. Não desejamos muitas vezes “gastar” o nosso melhor perfume com os outros. Jesus demonstrou ao fariseu que ele teve pouco amor; enquanto a mulher um amor capaz de dirimir seus pecados. Ele não é a favor do pecado, mas do pecador, para que ele se converta e viva.

         O desmedido legalismo nos escraviza; precisamos acolher melhor a todos: muitas pessoas morrem nas filas de hospitais por causa da burocracia das leis; muitos se afastam de nossas comunidades por causa do excesso de exigências que fazemos para que participem assiduamente da Igreja. Existem muitos bons católicos fieis às normas e tradições, mas talvez longe de viver o amor como acolhida.

         A liturgia hoje, portanto, nos apresenta que a acolhida de Deus aos pecadores é substancial para uma vida sólida de fé, como no caso de Davi, São Paulo e a mulher do evangelho. O que nos transforma não são as leis mas a acolhida direcionada ao amor. 

 

 

Frei André B., OP