MEMÃ?RIA DO BEM-AVENTURADO INOCÃ?NCIO V 23-06-2016

Memória do Bem-Aventurado Inocêncio V
Frei Alexandre Francisco de Marchi Silveira, OP
Gostaria de, neste dia em que a Ordem dos Pregadores faz memória do Beato Inocêncio V, Papa (1225 - 1276), evocar uma famosa frase de S. Tomás de Aquino: “contemplar e transmitir aos outros o fruto da contemplação”. Afinal, essa frase exprimi bem o que Pedro de Tarantasia (Inocêncio V) procurou viver: uma contemplação pelo estudo e pelo silêncio, na oração e na vivência comunitária, que é externalizada através do ensino e da pregação.
Pedro de Tarantasia morou por muitos anos no célebre convento de Saint Jacques. Dedicou-se com grande entusiasmo ao estudo e ensino; não é à toa que tenha recebido na Universidade de Paris a qualificação de doctor famosíssimus. E de igual modo não é à toa que muitos estudiosos possuíam grande estima por seus comentários sobre a Sagrada Escritura e sobre Pedro Lombardo.
Pedro de Tarantasia foi um homem respeitado, foi eleito por duas vezes provincial da França e no Capítulo geral de Valenciennes foi designado, ao lado de Alberto Magno e Tomás de Aquino, a formar uma comissão que tinha a finalidade de promover os estudos. Além disso, foi arcebisbo de Lião (França) e cardeal-bispo de Óstia. Ganhou grande destaque no Concílio de Lião (1274), ao lado de São Boaventura, tentando pôr fim ao cisma do Oriente. Após Gregório X, foi eleito Papa, assumindo o nome de Inocêncio V.
Evocando o evangelho que a liturgia nos apresenta hoje (Mt 7, 21-29), podemos dizer que o Beato Inocêncio V construiu sua “casa” sobre a rocha, por isso pôde conduzir a Igreja no caminho da paz e da unidade.
Do mesmo modo, somos convidados a depositar nossa confiança em Deus, pautando nossa existência nos ensinamentos de Cristo, que penetrou profundamente na vida e na razão de ser do homem, oferecendo-nos novos caminhos de humanização. Não basta falar sobre o evangelho, não basta louvar o Senhor com os lábios... se em nossas relações somos desumanos, se passamos por cima das pessoas, sobretudo das mais frágeis, simplesmente para satisfazer os nossos próprios desejos. O evangelho nos alerta: nossas palavras e carismas são insuficientes para entrar no Reino, é necessário algo a mais: pôr em prática a vontade de Deus (v. 21).
Minha irmã, meu irmão, que nós possamos falar com Deus sobre as nossas dificuldades e as nossas contradições. Ele conhece o mais profundo de nosso ser e está sempre disposto a nos ajudar. Se realmente queremos seguir os passos de Jesus, sabemos que devemos nos esforçar para deixarmos as situações cômodas e fáceis, mas para isso não contamos somente com a nossa boa vontade, somos auxiliados pela graça. Portanto, que possamos cultivar o desejo de fazer a vontade de Deus, desde as pequenas coisas até as grandes.
Que possamos, assim como Thomas Merton, falar com Deus: “Senhor meu Deus, não sei para onde vou. Não vejo o caminho diante de mim. Não posso saber com certeza onde terminará. Nem sequer, em realidade, me conheço, e o fato de pensar que estou seguindo a Tua vontade não significa que, em verdade, o esteja fazendo. Mas creio que o desejo de te agradar te agrada realmente. E espero ter esse desejo em tudo o que faço. Espero que jamais farei algo de contrário a esse desejo. E sei que, se assim fizer, Tu me hás de conduzir pelo caminho certo, embora eu nada saiba a esse respeito. Portanto, sempre hei de confiar em Ti, ainda que me pareça estar perdido e nas sombras da morte. Não hei de temer, pois estás sempre comigo e nunca me abandonarás, para que eu enfrente sozinho os perigos que me cercam"[1].