XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM 24-07-2016

Homilia para o XVII Domingo do Tempo Comum

24 de julho de 2016

 

            No evangelho deste domingo, Jesus nos ensina a orar. Apresenta-nos o modelo de toda oração. Uma expressão de seu diálogo e de sua intimidade com seu Pai, que convida a chamar de nosso. O Filho, com sua Encarnação, faz-nos irmãos em um único Pai. Aqui já podemos vislumbrar algo da generosidade do Cristo, que se entregou por nós totalmente na cruz: Ele não guarda para si a intimidade com seu Pai, mas nos faz participantes da mesma. Assim compreendemos que a Revelação não significa ensino de uma verdade sobre o divino, mas antes um convite à participação na intimidade e na vida do próprio Deus. Como escreveu Santa Hildegard von Bingen, monja da Idade Média, declarada Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI, o Cristo nos convida a entrar na dinâmica de amor eterno da própria Trindade.

            No ensinar seus discípulos a orar, Jesus nos revela a importância deste diálogo frutuoso com Deus, chamado oração. Aliás, não apenas importante, mas inegociável. Não se pode conceber um cristão que não esteja em contato com Deus. Não se pode conceber uma relação verdadeira se ela não é continuamente alimentada. Não se pode afirmar que se ama a Deus se não se encontra gozo em estar junto a Ele. Em um mundo onde a ação desenfreada, agitada, irrefletida e nociva nos encaminha a uma desumanização, o ensinamento de Cristo, que partilha conosco sua amizade com o Pai, nos recorda a valor inestimável da oração, sua necessidade e a urgência, de nossa parte, de dar testemunho de vida de oração.

            A oração não nos torna menos alegres, menos criativos, menos produtivos... pelo contrário. Como canal privilegiado da graça de Deus, a oração é caminho para a maior nobreza de nossa vida. A presença de Deus em nossa existência, pela oração, pela meditação da Escritura, pelos sacramentos, pela prática do amor, nos torna plenamente humanos. Podemos compreender a busca de uma vida coerente de oração como um caminho de humanidade plena. Sem Deus, seu princípio e seu fim, o homem é incompleto.

            A oração do Senhor, que conhecemos tradicionalmente por “Pai-Nosso”, respeita nossa humanidade. Fala-nos da importância do louvor a Deus e do pão. O homem não é uma alma espiritual presa em um corpo. Ele é uma síntese complexa, corpo e alma: uma unidade. Por isso, uma oração que respeita o próprio ser do homem, ou seja, a própria criação, precisa atingir os anseios do homem total. O homem tem necessidade do pão da verdade e do pão corporal. No “Pai-Nosso”, pedimos que o “Nome” seja santificado, louvado, adorado, e que o Reino que Cristo pregou, o Reino do Pai, venha. Um Deus que não é adorado, simplesmente, em nossos corações, deixa de ser Deus. É direito do homem louvar o seu Criador. E tal louvor eleva o homem. Mas este louvor não pode fazer o homem se esquecer de sua concretude, da autonomia das realidades terrestres, também elas cheias da presença amorosa de Deus.

            Que neste domingo, possamos nos abrir, ainda mais, à compreensão do valor essencial da oração em nossa vida de seguidores de Cristo. Como os discípulos de Emaús, desejemos sempre dizer ao Senhor: “Fica conosco!”

Frei André Tavares OP