FESTA DE SANTA MARTA 29-07-2016

Reflexão homilética sobre a festa de Santa Marta – 29 de Julho de 2016
Frei Luiz Carlos, OP[i]
A liturgia celebra neste dia 29 de Julho a festa de Santa Marta. Nesta narrativa do evangelho de Lucas nós temos o comportamento diferente das duas irmãs. Marta aparece como a grande serviçal que acolhe o mestre Jesus em sua casa, e sua irmã Maria, que não quer ajudar nas tarefas domésticas, mas senta-se aos pés do mestre.
O que significa receber o Senhor Jesus? É a pergunta que poderíamos fazer. O que significa dizer “recebeu em sua casa”? Trata-se de uma questão crítica. Precisamos compreender melhor esta expressão tão importante sobre a acolhida.
Primeiramente, Receber a Cristo apropriadamente é dar a ele o lugar de honra, supremacia e centralidade. Muitas vezes dizemos acolher Jesus em nossa vida, quantas vezes afirmamos isso em nossas orações, ou em nossa vida espiritual. Mas muitas vezes também alguma outra coisa ou pessoa que não é Jesus geralmente toma o lugar central.
Porém, aqui está o mais trágico. Ao dizermos que Jesus ocupa um lugar central em nossa vida, as nossas ações nada têm de centralidade de Cristo Jesus, isso é paradoxal. Somos muitas vezes sectários e elitistas.
Jesus Cristo, no entanto, não quer o segundo lugar, ele deixa isso claro em outras passagens do evangelho. Ele não se sente “em casa” em nenhum lugar ou pessoa que não lhe dê absoluta e suprema centralidade. Ele deseja ser mais do que um convidado. Deseja mais que ser um simples hóspede. Ele quer ser o dono da casa. “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. (Mt 16,24).
Muitos cristãos tratam Jesus como se ele fosse um hóspede ilustre ou um convidado de honra invisível. Mas um convidado é sempre um visitante, por ilustre que seja. Jesus Cristo deseja ser mais do que um convidado. Ele quer ser a Cabeça do corpo que somos todos nós. Somente quando o acolhemos verdadeiramente, ele se sente em casa, sobretudo no outro.
Como cristãos temos quereceber tudo o que ele é, isto significa, deixá-lo à vontade, ocupando o lugar que ele deseja e não o que nós determinamos. Se não for assim, é receber “meia-refeição”, é recebê-lo nos nossos próprios termos. Isto não é recebê-lo como Ele é. Em diversas ocasiões nos evangelhos, Jesus fez esta afirmação bastante desafiadora no que tange a acolhida; “aquele que recebe os que eu envio, a mim me recebe”.
O evangelho deste dia nos mostra formas distintas de acolher Jesus, Marta nos afazeres domésticos; Maria sentada está aos pés do Senhor. Esta é a postura de um discípulo. Somente o discípulo senta aos pés do mestre. Um escravo nunca sentaria aos pés do seu Senhor, é uma atitude de liberdade diante do mestre. E o discípulo senta para escutá-lo. Escutando ele apreende com o mestre. E aprende porque ouve atentamente a Palavra dele.
Assim, então, esta casa nos ensina a acolher Jesus. E na casa de Marta e Maria, aprendemos com elas, uma que a escuta outra que está em ação, mas ambas nos ensinam escolher a melhor parte, e a melhor parte é sentar-se aos pés do Jesus para escutar, e tornarmos assim seus discípulos.
Marta está ocupada nos afazeres domésticos, mas Jesus não pede uma refeição. Ao contrário, ele quer ensinar. Voltemos para o espaço da cozinha e olhemos para Marta. Ela tinha uma coisa em mente. Ela estava interessada em dar a Jesus uma recepção apropriada. Ela provavelmente estava preparando uma grande refeição para Jesus e seus discípulos. Ela estava servindo na cozinha, preparando a comida, pegando os pratos, pegando os melhores utensílios de prata, etc. Mas, na medida em que os minutos passam, ela começa a perder a paciência.
Sua irmã não está lhe ajudando em nada. Ao contrário, ela está na sala sentada aos pés de Jesus como um de seus discípulos, parecendo perder tempo com Jesus, onde só havia homens, o que ela como mulher estaria fazendo ali, se o lugar dela é na cozinha ajudando sua irmã? Em outras palavras, Maria está se comportando como um homem. Marta continua a trabalhar na cozinha, na esperança de que Maria irá se levantar e ajudá-la.
Ela para um pouco. Mas ela simplesmente não pode esperar mais. Ela irrompe tempestuosamente a sala de estar e protesta para Jesus: “Maria não está me ajudando”. Você nem se importa! Diga a ela para me ajudar. Notemos que no meio do protesto de Marta, Maria fica silenciosa. Ela não se defende. Ela deixa que o Senhor a defenda, e ele o faz.
A resposta do Senhor para Marta é carinhosa. “Marta, Marta, você está preocupada e atribulada com muitas coisas. Maria está concentrada em uma só coisa. E esta coisa é a mais necessária”. É a melhor coisa, e o que é a melhor coisa? Ser seu discípulo. Uma só coisa é necessária, diz Jesus‚ “e eu não vou tirar isto dela”. A melhor parte, como alguns teólogos traduzem é conhecê-lo. E a esse conhecimento segue um serviço inteligente. Um serviço que flui do amor, da amizade, e do companheirismo. Jesus não disse que as coisas com as quais Marta estava preocupada eram erradas. Ele simplesmente apontou que somente uma coisa era necessária. E tampouco Jesus disse a Marta para parar de servir. O que ele fez foi expor o fato de que seu serviço estava mal guiado e mal direcionado. Seu coração estava no lugar errado. Ela estava concentrada na coisa errada. Ela estava tão ocupada com preparar uma comida apropriada que ela nem percebeu que Deus, em pessoa, estava sentado em sua sala de estar!
Como cristãos e discípulos somos chamados ao serviço. E nosso serviço ao Senhor tem sempre que fluir do nosso companheirismo com Ele. Aprendemos assim com Marta e em sua casa que devemos antes sentar-se aos pés do Senhor e a ouvir sua Palavra, e depois se colocar a serviço de todos.