SÍNODO DOS BISPOS DEDICADO A FAMÍLIA

Este texto foi redigido por Frei Fernando Solá,O.P, por motivo da aproximação do Sínodo da família e contou com a colaboração dos casais do Movimento Familiar Cristão e da comunidade dominicana da casa “Santísima Trinidad” em Motevideo.
DIVORCIADOS EM UMA NOVA UNIÃO
COLOCAM SUA ESPERANÇA NO SÍNODO
O Sínodo dos bispos, convocado para o próximo mês de Outubro , está chegando no final do período previsto que o Papa Francisco pediu para que as Igrejas locais refletissem e amadurecessem sobre questões para o sínodo tratar. Estas questões foram objeto de uma ampla consulta e tratadas “com grande liberdade e com um estilo de escuta recíproca” na Assembléia Extraordinária dos Bispos em Outubro do ano passado.
O tema que se propõem tratar o Sínodo é “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. É um assunto de grande importância para a Igreja, não somente para iluminar sua fidelidade a Cristo, mas também de sua permanente adaptação ao mundo contemporâneo. Ao mesmo tempo, é motivo de preocupação para a vida de fé dos matrimônios e das famílias em suas diversas expressões. É responsabilidade de todos os sacerdotes, religiosas e especialmente dos leigos. A todos nós interessa a preparação, o desenvolvimento e as decisões deste sínodo. Por conseguinte, no curto tempo que falta para sua abertura não são supérfluos os comentários e exposição dos diferentes pontos de vista, para criar um ambiente de abertura e depositar nas mãos de nossos Pastores as inquietudes do Povo de Deus.
Pessoalmente tenho mais de dez anos acompanhando, desde a Paróquia dos Dominicanos e com os matrimônios dos Movimentos Familiar Cristão de Montevideo, o caminhar na fé de vários casais que, depois de sofrer o fracasso de seu matrimônio, optaram por reconstruir sua vida em uma nova união. Formamos um grupo que vem reunindo-se a cada quinze dias, o qual colocamos o nome de “El Alfarero”( O Oleiro) em referência a passagem bíblica que o Profeta escuta a voz de Deus que lhe diz “Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão”(Jer 18,6)
O grupo refletiu a partir de sua experiência e a luz do evangelho sua própria situação e de outros muitos casais cuja fé e comunhão com a Igreja entram em conflito com as disposições canônicas atuais. Também, com sentido de responsabilidade, participaram nas pesquisas que antecederam as duas chamadas para este sínodo sobre a família. Das reflexões extraio algumas considerações que se relacionam com sua realidade de vida e que exponho com minhas expectativas deste sínodo.
Primeiramente, quero que este Sínodo saia fortalecido no amor conjugal que consagra o matrimônio de um homem e de uma mulher como proposta de vida cristã. E que se declare, sem ambigüidades, o amor como essência do sacramento do matrimônio.
Para melhor alcançar este objetivo, espero:
1. Que o matrimônio não seja considerado como um contrato, mas como um processo quem tende ao ideal evangélico. Portanto, que o ato jurídico se oriente por suas próprias leis, incluindo atenuantes e causas que impeçam o matrimônio , e se promulgue o cuidado e a defesa do amor em que “ todo amor verdadeiro, é indissolúvel “.
2. Que se considere a possibilidade real da morte do amor e neste caso se proceda de modo semelhante a morte física, permitindo uma nova união. Que se atente na elaboração de uma teologia do fracasso como situação da fragilidade humana, capaz de ser integrada ao mistério da encarnação.
3. Que se admita a receber a Eucaristia e ao sacramento da reconciliação aqueles que sinceramente decidiram reconstruir suas vidas sem rancor, com responsabilidade e com justiça entre as partes implicadas.
Creio que nosso tempo alcançou uma suficiente compreensão da condição humana e da necessidade da misericórdia libertadora. Ambos os aspetos vão ao encontro para adquirir uma atitude indulgente tanto na Igreja como na sociedade, que evite, em situações irreversíveis , uma vivencia obrigada ou a possibilidade de reconstruir uma vida quebrada.
Espero e rezo para que este Sínodo seja portador da sempre surpreendente novidade de Deus.
Fr. Fernando Solá, O.P. Superior da Comunidade Santíssima Trindade em Montevideo e assessor do movimento Familiar Cristão
Tradução: Fr. Bruno Moreira, O.P.