Espiritualidade do Rosário
O Rosário foi popularizada por Alan de la Roche (1428-1475), dominicano bretão com uma grande reputação de santidade. Ele propagou a devoção ao Saltério da Virgem, no norte da França e em Flandres, organizando Confrarias do Rosário em muitos lugares e para todas as pessoas, as quais estavam ávidas por indulgências – em um período de guerra, fome e cisma – e ansiavam por "ser preservadas da morte súbita e dos assaltos do diabo".
Onde se encontra São Domingos em tudo isso? Parece que, em seu ardor para propagar o Rosário, o Beato Alan de la Roche tentou atribuir sua invenção ao fundador da sua Ordem, tendo apoiado-se em uma série de testemunhos que, temos de admitir, não eram especialmente exatos. Ele parece ter se baseado fortemente em um tratado escrito por certo João de Monte (m. 1442), um bispo dominicano e amigo dos cartuxos.
Ninguém pode negar que através dos séculos uma ligação especial foi criada entre o Rosário e a Ordem de S. Domingos. É a um dominicano, Jacques Sprenger (1436-1496), coautor do famoso Martelo das Bruxas e, também, fundador de uma Confraria do Rosário em Colônia, que se atribui a divisão dos mistérios em gozosos, dolorosos e gloriosos, a qual tem, ritmicamente, apoiado a piedade de muitas gerações. Havia sabedoria em fazer do Rosário não uma devoção particular, mas uma oração autêntica da Igreja. Pio V, aquele austero e devoto papa Dominicana, atribuiu ao Rosário a vitória da batalha de Lepanto, pela qual, graças a D. João de Áustria, o avanço dos turcos sobre a Europa foi posto em xeque, em 1571. Como se encontra registrado no Senado de Veneza, não foram nem a coragem tampouco as armas e, nem mesmo, os líderes, que ganharam a vitória, mas "Maria do Rosário", honrada com o título de "Nossa Senhora da Vitória".
Os dominicanos carregam o Rosário em seus cintos, como os cartuxos professos. Durante gerações, os frades pregadores têm-se dedicado a um apostolado popular, no sentido da eclesiologia de "Povo de Deus", muito antes de essa expressão ter tornado-se tão valorizada. Podemos, portanto, perceber o que os homens medievais estavam tentando fazer ao atribuir a invenção do Rosário a São Domingos. Eles queriam expressar, de um modo poético, tanto a crença no poder da oração, ao qual o Santo Fundador, tão confiantemente, acreditava; quanto a certeza do papel da Virgem na história da salvação.
Recordemos como Michelangelo expressou essa convicção - ele que, além disso, contribuiu para a restauração do túmulo de S. Domingos em Bolonha. No centro do Juízo Final na Capela Sistina (figura 1), um personagem, que carrega uma coroa de contas cor-de-rosa, estende-a para duas figuras, as quais se agarram a ela com tanta força que, por isso, são atraídas para a direção do Cristo em Sua glória. Ao lado do Redentor, envolvida em seu manto, a Virgem, em atitude de oração, contempla o Dia do Senhor. Fra Angelico apresenta-a na mesma posição em sua pintura do Juízo em São Marcos, em Florença (figura 2).
Este contemporâneo de Alan de la Roche coloca São Domingos no extremo do coro de profetas e apóstolos. O mistério glorioso, total e definitivamente, dispõe Maria ao papel de presente na comunhão dos santos, na Igreja. Foi apropriado, então, que Domingos, em sua devoção mariana, que era inseparável do seu zelo apostólico, devesse ser representado desse modo na beatitude, que ele tão ardentemente anunciou.
Fonte: Site Internacional da Ordem dos Pregadores. Bedouelle, Guy. São Domingos: A Graça da Palavra. Ignatius Press, 1987.
Figura 1: detalhe do afresco “Juízo Final”, 1535-1541, de Michelangelo Buonarroti.
Figura 2: detalhe da tempera “O último julgamento”, 1425–1430, de Fra Angelico.
Onde se encontra São Domingos em tudo isso? Parece que, em seu ardor para propagar o Rosário, o Beato Alan de la Roche tentou atribuir sua invenção ao fundador da sua Ordem, tendo apoiado-se em uma série de testemunhos que, temos de admitir, não eram especialmente exatos. Ele parece ter se baseado fortemente em um tratado escrito por certo João de Monte (m. 1442), um bispo dominicano e amigo dos cartuxos.
Ninguém pode negar que através dos séculos uma ligação especial foi criada entre o Rosário e a Ordem de S. Domingos. É a um dominicano, Jacques Sprenger (1436-1496), coautor do famoso Martelo das Bruxas e, também, fundador de uma Confraria do Rosário em Colônia, que se atribui a divisão dos mistérios em gozosos, dolorosos e gloriosos, a qual tem, ritmicamente, apoiado a piedade de muitas gerações. Havia sabedoria em fazer do Rosário não uma devoção particular, mas uma oração autêntica da Igreja. Pio V, aquele austero e devoto papa Dominicana, atribuiu ao Rosário a vitória da batalha de Lepanto, pela qual, graças a D. João de Áustria, o avanço dos turcos sobre a Europa foi posto em xeque, em 1571. Como se encontra registrado no Senado de Veneza, não foram nem a coragem tampouco as armas e, nem mesmo, os líderes, que ganharam a vitória, mas "Maria do Rosário", honrada com o título de "Nossa Senhora da Vitória".
Os dominicanos carregam o Rosário em seus cintos, como os cartuxos professos. Durante gerações, os frades pregadores têm-se dedicado a um apostolado popular, no sentido da eclesiologia de "Povo de Deus", muito antes de essa expressão ter tornado-se tão valorizada. Podemos, portanto, perceber o que os homens medievais estavam tentando fazer ao atribuir a invenção do Rosário a São Domingos. Eles queriam expressar, de um modo poético, tanto a crença no poder da oração, ao qual o Santo Fundador, tão confiantemente, acreditava; quanto a certeza do papel da Virgem na história da salvação.
Recordemos como Michelangelo expressou essa convicção - ele que, além disso, contribuiu para a restauração do túmulo de S. Domingos em Bolonha. No centro do Juízo Final na Capela Sistina (figura 1), um personagem, que carrega uma coroa de contas cor-de-rosa, estende-a para duas figuras, as quais se agarram a ela com tanta força que, por isso, são atraídas para a direção do Cristo em Sua glória. Ao lado do Redentor, envolvida em seu manto, a Virgem, em atitude de oração, contempla o Dia do Senhor. Fra Angelico apresenta-a na mesma posição em sua pintura do Juízo em São Marcos, em Florença (figura 2).
Este contemporâneo de Alan de la Roche coloca São Domingos no extremo do coro de profetas e apóstolos. O mistério glorioso, total e definitivamente, dispõe Maria ao papel de presente na comunhão dos santos, na Igreja. Foi apropriado, então, que Domingos, em sua devoção mariana, que era inseparável do seu zelo apostólico, devesse ser representado desse modo na beatitude, que ele tão ardentemente anunciou.
Fonte: Site Internacional da Ordem dos Pregadores. Bedouelle, Guy. São Domingos: A Graça da Palavra. Ignatius Press, 1987.

Figura 1: detalhe do afresco “Juízo Final”, 1535-1541, de Michelangelo Buonarroti.

Figura 2: detalhe da tempera “O último julgamento”, 1425–1430, de Fra Angelico.